Câncer de pulmão: tudo sobre a doença

câncer de pulmão

 

No mundo, o câncer de pulmão é o mais frequente entre os homens e o terceiro entre as mulheres. No Brasil, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), é o terceiro entre eles e o quarto entre elas, sem contar o câncer de pele não melanoma. São 32 mil casos diagnosticados por ano, e 28 mil mortes. 

Mas a ciência avançou muito nas últimas décadas. Hoje, entendemos melhor não só o papel do cigarro, mas também de outros fatores de risco, como a poluição. Além disso, novas formas de diagnóstico e tratamento aumentam as chances de sucesso no combate à doença. 

O que é câncer de pulmão? 

O câncer de pulmão é uma doença que acontece pelo crescimento descontrolado de células nos pulmões. Essas células anormais se multiplicam rapidamente, formando tumores que podem invadir tecidos vizinhos e até se espalhar para outras partes do corpo, em um processo chamado metástase. 

Como os pulmões são responsáveis por levar oxigênio para o sangue e eliminar o gás carbônico, os sintomas do câncer nesses órgãos frequentemente envolvem a respiração. 

Quais são os sintomas de câncer no pulmão? 

Na fase inicial, o câncer de pulmão não costuma apresentar sintomas claros. Mas, quando eles surgem, os primeiros sinais costumam ser tosse persistente ou que piora no decorrer do tempo, e falta de ar. Mas a pessoa ainda pode notar: 

  • Presença de sangue no escarro (hemoptise); 
  • Dor no peito; 
  • Rouquidão; 
  • Perda de peso e de apetite sem motivo aparente; 
  • Cansaço ou fraqueza; 
  • Infecções pulmonares recorrentes, como pneumonias. 

Vale lembrar que, no caso de fumantes e ex-fumantes, é necessário um acompanhamento periódico e exames regulares devido ao risco aumentado. E pelo fato de que, nas fases iniciais, o câncer de pulmão não costuma ter sintomas. 

 

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Tipos de câncer de pulmão 

Existem dois grupos principais de câncer de pulmão. O mais comum, respondendo por cerca de 85% dos casos, é o câncer de pulmão de não pequenas células (CPNPC). Geralmente, ele se desenvolve mais lentamente e se divide em três subtipos: 

  • Adenocarcinoma: é o tipo mais frequente, inclusive em não fumantes. Geralmente surge nas partes mais externas dos pulmões. 
  • Carcinoma de células escamosas (ou epidermoide): está ligado ao tabagismo e costuma aparecer nas regiões centrais dos pulmões. 
  • Carcinoma de grandes células: é um tipo mais raro e pode aparecer em qualquer parte do pulmão, com crescimento rápido. 

O outro grupo é o câncer de pulmão de pequenas células (CPPC), que representa cerca de 15% dos diagnósticos. É um tipo mais agressivo, cresce rapidamente e tem maior capacidade de se espalhar. É quase exclusivo de fumantes ou ex-fumantes. 

Como o câncer de pulmão se desenvolve? 

O câncer de pulmão começa com uma mutação no DNA de uma célula pulmonar. Essa alteração faz com que a célula, em vez de crescer e morrer de forma programada, passe a se multiplicar sem controle. 

Então, essas células defeituosas formam uma massa, chamada de tumor primário. Se não for tratado, o tumor cresce e pode invadir estruturas próximas, como os brônquios.  

As células cancerosas também podem se desprender, cair na corrente sanguínea ou no sistema linfático e viajar para outros órgãos, como cérebro, ossos e fígado. Ali, elas formam novos tumores, as metástases. 

As causas para essas mutações no DNA são variadas. Em muitos casos, pode haver uma combinação de fatores. Por exemplo: algumas pessoas podem ter condições genéticas que aumentam sua propensão de serem acometidas pela doença, mas isso quando expostas a certas condições. 

Fatores de risco da doença 

O tabagismo ainda é o principal fator de risco para o câncer de pulmão. As substâncias tóxicas do cigarro causam danos diretos às células pulmonares, e cerca de 85% dos diagnósticos estão ligados a ele.  

Mas o perfil da doença mudou, e novos fatores de risco criaram um cenário mais complexo e que exige atenção de todos, fumantes ou não. 

Cigarro tradicional e eletrônico (vapes) 

O tabagismo segue como a principal causa. Suas mais de 7 mil substâncias tóxicas causam danos diretos e cumulativos ao DNA das células pulmonares, elevando drasticamente o risco. 

Mas o que preocupa os especialistas é a falsa sensação de segurança dos cigarros eletrônicos (vapes). Apesar de não terem a combustão do tabaco, eles não são inofensivos. Seus vapores contêm um coquetel de substâncias tóxicas e cancerígenas.  
Eles representam uma nova e preocupante porta de entrada para o vício, especialmente entre os jovens, e já são considerados um fator de risco relevante. 

Tabagismo passivo 

É a exposição à fumaça do cigarro de outras pessoas. O não fumante, ao inalar a fumaça ambiental do tabaco, absorve as mesmas substâncias cancerígenas que o fumante ativo, incluindo nicotina, alcatrão e monóxido de carbono.  

E essa exposição involuntária danifica as células dos pulmões e pode iniciar as mutações genéticas que levam ao crescimento descontrolado de células tumorais.  

Conviver diariamente com fumantes em ambientes fechados, como em casa ou no trabalho, eleva consideravelmente a probabilidade de desenvolver a doença, mesmo em quem nunca fumou um cigarro. 

Poluição do ar 

A poluição não age como o cigarro, que causa danos diretos ao DNA. O mecanismo é mais sutil: partículas finas de poluição, especialmente as chamadas PM2.5, entram nos pulmões e provocam uma inflamação crônica.  

Essa inflamação funciona como um "gatilho". Ela pode despertar células que já possuem mutações genéticas (adquiridas com a idade, por exemplo) e fazê-las começar a se multiplicar de forma descontrolada, dando início ao câncer. Ou seja, a poluição acelera um processo que talvez nunca acontecesse. 

Histórico familiar de câncer de pulmão 

Ter parentes de primeiro grau (como pais, irmãos ou filhos) que tiveram câncer de pulmão pode indicar uma predisposição genética que aumenta o risco da doença.   
 
Algumas pessoas podem herdar mutações em genes que as tornam mais suscetíveis aos efeitos dos agentes cancerígenos ou menos eficientes no reparo do DNA danificado.  

Histórico de doenças pulmonares 

Condições crônicas como a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e a tuberculose podem aumentar significativamente o risco de desenvolver câncer de pulmão.  

A inflamação crônica persistente, uma característica da DPOC, cria um ambiente propício para o surgimento de mutações celulares malignas.  

Além disso, tanto a tuberculose quanto outras doenças pulmonares podem deixar cicatrizes (fibrose) no tecido pulmonar. Essas áreas de cicatrização alteram a estrutura normal do pulmão e podem se tornar focos para o desenvolvimento de tumores. 

O dano tecidual contínuo e os processos de reparo celular defeituosos nessas áreas lesadas podem levar à transformação maligna das células, tornando o pulmão mais vulnerável ao câncer. 

Exposição ocupacional a agentes químicos  

A exposição prolongada a certas substâncias tóxicas no ambiente de trabalho é um fator de risco comprovado. Agentes como o amianto (asbesto), comumente usado em construção e isolamento, a sílica, presente em atividades de mineração e jateamento de areia, o gás radônio, encontrado em minas subterrâneas, e metais pesados como arsênico e níquel, são potentes carcinógenos pulmonares.  

Ao serem inaladas, essas partículas ou gases provocam inflamação crônica e danos celulares persistentes nos pulmões. Com o tempo, essa agressão contínua pode levar a mutações no DNA das células pulmonares, iniciando o processo de transformação maligna.  

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que entre 17% e 29% dos casos de câncer de pulmão em homens estão ligados a essas exposições ocupacionais, o que reforça a importância da implementação de medidas de segurança rigorosas. 

Mutações genéticas específicas 

Cada vez mais não fumantes – especialmente jovens e mulheres - estão recebendo o diagnóstico de câncer de pulmão. E hoje sabemos que esse perfil de paciente costuma apresentar mutações específicas que impulsionam a doença, como aquelas nos genes EGFR, ALK, ROS1, KRAS, MET, ERBB2 e RET.  

Essas mutações não necessariamente são herdadas e podem se manifestar ao longo da vida. A ciência ainda não sabe exatamente o que induziria esse processo. Mas entre os possíveis gatilhos estão a poluição, o estilo de vida e infecções respiratórias. 

Sabemos também que essas alterações genéticas podem influenciar diretamente na escolha do tratamento, já que, em alguns casos, é possível aplicar terapias-alvo específicas.  

No entanto, algumas terapias-alvo ainda estão em fase de desenvolvimento e pesquisa. Por isso, a aplicabilidade clínica pode variar conforme o tipo de alteração identificada.  

Como é feito o diagnóstico da doença? 

A investigação geralmente começa com exames de imagem, como o raio-x de tórax. Caso o médico encontre alguma alteração suspeita, como um nódulo, ele solicita uma tomografia computadorizada, que oferece imagens mais detalhadas do pulmão. 

Se a tomografia confirmar a presença de uma lesão suspeita, o próximo passo seria a biópsia, o único exame capaz de confirmar o diagnóstico de câncer. Nele, um pequeno pedaço do tecido do tumor é retirado para análise em laboratório.  

Além da biópsia convencional do tecido, hoje já se utiliza a biópsia líquida. Um exame de sangue consegue detectar fragmentos do DNA do tumor (o chamado ctDNA) que circulam na corrente sanguínea. Assim, é possível identificar mutações genéticas específicas para guiar o tratamento de forma menos invasiva. 

Uma vez confirmado o câncer, outros exames podem ser pedidos, como o PET-CT, que ajuda a verificar se a doença se espalhou para outras partes do corpo. Essa etapa, chamada de estadiamento, é essencial para definir o tratamento.  

É possível rastrear o câncer de pulmão? 

Sim, é possível. O rastreamento é uma busca ativa pela doença em pessoas que não têm sintomas, mas que pertencem a um grupo de alto risco. E isso geralmente inclui fumantes ou ex-fumantes de longa data, dentro de uma faixa etária específica.  

O objetivo é encontrar um possível tumor em fase bem inicial, o que aumenta muito as chances de cura. E o exame usado é a tomografia computadorizada de baixa dose de radiação.  

Estudos, como um projeto piloto brasileiro chamado ProPulmão, confirmaram que essa estratégia é viável e eficaz no Brasil. Mas a decisão de iniciar o rastreamento sempre deve ser sempre discutida com o médico. 

Como saber se tenho predisposição genética ao câncer? 

Existem determinadas alterações e variações genéticas, herdadas ou não, que indicam se temos uma probabilidade maior ou menor de sermos acometidos por alguns tipos de câncer, como o de pulmão. 

E hoje há testes que mapeiam o nosso DNA e estimam essa probabilidade. Um deles é a Escala de Risco Genético da Genera, feito através de uma amostra de saliva.  

Com ele, é possível saber se nosso risco para desenvolver alguns tipos de câncer  até os 95 anos de idade é maior, menor ou semelhante ao do restante da população brasileira. O resultado é mostrado na forma de porcentagem.  

Quem é assinante do Genera Sempre conta com um benefício exclusivo: acesso ao resultado que indica o risco individual de desenvolver câncer de pulmão e outras condições.

Câncer de pulmão tem cura?

Sim, o câncer de pulmão tem cura e as chances são muito maiores quando a doença é diagnosticada em seus estágios iniciais. Nesses casos, o tumor ainda é pequeno e restrito ao pulmão, o que facilita sua remoção completa.  

Mas, além disso, o prognóstico depende de fatores como o tipo do tumor e o estado geral de saúde do paciente. 

Tratamentos para câncer de pulmão 

As principais formas de tratamento são a cirurgia, a radioterapia e a quimioterapia, muitas vezes combinadas. Um exemplo é a quimioimunoterapia, que une as duas estratégias para um ataque mais eficaz ao tumor.  

Além disso, abordagens como a terapia-alvo e a imunoterapia vem sendo usadas, principalmente para casos mais avançados. A seguir, saiba mais sobre cada uma das opções. 

Cirurgia 

É o tratamento de escolha para tumores em estágio inicial. O objetivo é remover completamente o tumor e uma margem de segurança. Atualmente, muitos procedimentos são realizados com o auxílio de robôs-cirurgiões, que proporcionam maior precisão, cortes menores e uma recuperação mais rápida. 

Radioterapia 

A terapia usa radiação de alta energia para destruir as células cancerosas ou impedir que elas se multipliquem. Uma modalidade avançada é a radiocirurgia (SBRT), que utiliza doses de radiação extremamente focadas e potentes para destruir o tumor em poucas sessões (de 3 a 5), preservando os tecidos saudáveis ao redor. 

Quimioterapia 

Empregada em diferentes momentos, ela utiliza medicamentos que circulam por todo o corpo para destruir as células do câncer. Administrada por via intravenosa ou oral, age de forma sistêmica, ou seja, atinge não apenas o tumor primário, mas também possíveis células cancerígenas que tenham se espalhado para outras partes do corpo. 

Pode ser utilizada como tratamento principal, especialmente em combinação com a radioterapia, ou em estágios mais avançados da doença. Também é frequentemente indicada após a cirurgia (terapia adjuvante) para eliminar células residuais e reduzir o risco de a doença retornar. 

Terapia-alvo 

Aqui, medicamentos que agem sobre alvos moleculares específicos das células tumorais, bloqueando seu crescimento. Funciona como uma chave que se encaixa em uma fechadura específica do tumor. 

Uma das tecnologias mais modernas dentro dessa classe são os anticorpos conjugados a droga (ADCs). Eles funcionam como "cavalos de Troia": um anticorpo localiza a célula doente e, ao se conectar a ela, entrega uma quimioterapia de alta potência diretamente em seu interior, poupando as células sadias. 

Imunoterapia 

O tratamento estimula o próprio sistema imunológico do paciente a reconhecer e atacar as células do câncer. E hoje há técnicas avançadas como a terapia com células CAR-T. Nessa técnica, as células de defesa do próprio paciente são retiradas, "reprogramadas" em laboratório para identificar e combater o tumor, e depois reintroduzidas no organismo.

 

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Fonte: Dr. Elie Fiss, médico pneumologista da Dasa e Larissa Bonasser, bióloga, mestre em Ciências da Saúde e analista de Pesquisa e Desenvolvimento na Genera