Aquela mancha roxa que aparece na pele espontaneamente ou após uma pancada tem o nome técnico de hematoma ou equimose. Este tipo de mancha é relativamente comum no cotidiano das pessoas e, na maioria dos casos, elas não requerem tratamento. Isso porque desaparecem espontaneamente com o passar dos dias.
Porém, em alguns casos, elas podem indicar problemas de saúde mais sérios e que exigem investigação. Siga a leitura e saiba mais sobre os hematomas e quando buscar ajuda.
Hematoma: o que é?
Hematoma é o nome que se dá ao acúmulo de sangue fora dos vasos sanguíneos. Ele acontece quando um vaso se rompe e o sangue extravasa e se concentra em um órgão, tecido ou cavidade do corpo.
Quais as causas?
A causa mais comum de um hematoma é o trauma. Isso inclui pancadas, contusões, quedas durante a prática de esportes ou mesmo no cotidiano. Nessas situações, o impacto pode romper os vasos sanguíneos, levando ao acúmulo de sangue sob a pele.
As intervenções também podem causar hematomas devido ruptura intencional dos vasos sanguíneos por punção do vaso ou por corte na pele que contém estes vasos. Isto é bastante comum em procedimentos como coletas de sangue, tratamentos estéticos e cirurgias.
O uso de medicamentos que interferem na coagulação sanguínea como aspirina, anti-inflamatórios e anticoagulantes também pode causar uma tendência aos hematomas.
As varizes também podem causar hematomas com maior facilidade porque são vasos mais frágeis, dilatados e tortuosos e muitas vezes se encontram próximo a pele causando o rompimento dos vasos em pequenos traumas do dia a dia.
Já a fragilidade capilar acontece quando os pequenos vasos sanguíneos do corpo ficam mais frágeis e propensos a romper, causando hematomas com facilidade. Um dos principais motivos é o envelhecimento natural, que faz com que os vasos percam colágeno e elasticidade, enquanto a pele se torna mais fina e sensível. Além disso, outras causas podem contribuir para essa fragilidade, como:
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Doenças do colágeno, que comprometem a estrutura dos vasos;
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Deficiência de vitamina C, essencial para a saúde vascular;
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Uso prolongado de medicamentos, especialmente corticosteroides, que enfraquecem a pele e os vasos;
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Inflamação dos vasos sanguíneos (vasculite), que pode ocorrer em infecções, como a Dengue, ou em doenças reumatológicas.
Há ainda outras condições de saúde que afetam o processo de coagulação ou os componentes do sangue que podem causar o aparecimento de hematomas e equimoses mais frequente. Entre elas, temos:
Distúrbios de coagulação
Estes distúrbios podem ser hereditários ou adquiridos ao longo da vida e acontecem quando ocorre deficiência de fatores de coagulação, que são proteínas essenciais para o processo de controle e interrupção dos sangramentos.
Normalmente, quando um vaso sanguíneo sofre uma lesão, esses fatores atuam para formar um coágulo de fibrina (rede pegajosa), que auxilia no fechamento do ferimento, bloqueia o sangramento e inicia o processo de cicatrização.
Porém, em pessoas com distúrbios de coagulação, essa ação fica comprometida, tornando mais difícil controlar os sangramentos, mesmo em situações simples.
Doenças da plaqueta
As plaquetas são fragmentos celulares que também auxiliam no processo inicial da coagulação, ajudando a estancar os sangramentos. Sua contagem está incluída no hemograma.
Quando ocorre diminuição ou alteração da função das plaquetas, o corpo pode ter dificuldade de formar estes tampões que fecham as lesões nos vasos sanguíneos. Essa redução no número de plaquetas pode ocorrer por causas hereditárias ou adquiridas ao longo da vida.
Entre as causas adquiridas as principais são: infecciosas (vírus, bactérias ou fungos), imunes (anticorpos atacam as plaquetas e a destroem), e uso de alguns medicamentos. Por outro lado, as plaquetas podem estar numericamente normais, porém com sua função alterada.
Doenças do fígado
O fígado é o principal órgão responsável pela produção dos fatores de coagulação, proteínas essenciais para controlar o sangramento como mencionado acima. Quando há alguma doença hepática, a produção destes fatores pode ser afetada.
Deficiência de vitaminas
A vitamina K é uma vitamina importante para coagulação porque participa da produção de alguns fatores de coagulação. A vitamina K está presente principalmente em alimentos como vegetais verde escuros, folhas e oleosos. A redução desta vitamina pode reduzir a produção destes fatores de coagulação chamados de vitamina K dependentes.
Quais os tipos de hematomas?
Os hematomas podem surgir em qualquer parte do corpo onde haja ruptura de um vaso sanguíneo e extravasamento do sangue. Eles são classificados de acordo com sua localização e gravidade, podendo ocorrer em tecidos superficiais, como a pele e os músculos, ou em estruturas mais profundas, como órgãos internos e cavidades do corpo.
Entre os tipos mais comuns, destacam-se:
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Hematomas subcutâneos, logo abaixo da pele, o tipo mais comum de hematoma;
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Intramusculares, dentro do tecido muscular;
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Cerebrais, como os hematomas subdurais e epidurais;
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Hematoma subdural: um acúmulo de sangue entre duas camadas que envolvem o cérebro: a duramáter (a mais externa das meninges) e o próprio tecido cerebral.
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Hematoma epidural: parecido com o subdural, mas o sangue se acumula entre a dura-máter e o osso do crânio.
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Hematomas intraparenquimatoso: ocorre dentro do tecido do cérebro, também chamado de parênquima.
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Retroperitoneais, localizados atrás da cavidade abdominal;
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Perianais, periorbitais ou auriculares, dependendo do local afetado.
A classificação das manchas roxas na pele também pode incluir termos como petéquias, púrpuras e equimoses. As petéquias e púrpuras são pequenos pontos vermelhos de sangramento decorrentes da ruptura de pequenos vasos sanguíneos chamados capilares, sendo as petéquias menores e as purpuras, maiores. as equimoses serão posteriormente explicadas.
Qual a diferença entre hematoma e equimose?
Tanto o hematoma quanto a equimose são o extravasamento de sangue sob a pele. A principal diferença está na extensão e na profundidade do sangramento.
Equimose
Geralmente é uma mancha mais superficial, tende a ser mais plana. Acontece quando os vasos sanguíneos menores, os capilares, se rompem.
Hematoma
Envolve o extravasamento de uma quantidade maior de sangue, pode atingir camadas mais profundas da pele e até músculos. Um hematoma muitas vezes forma uma elevação palpável (uma protuberância) e pode ser mais doloroso que uma equimose simples.
Em resumo, a equimose é uma forma mais branda e superficial de sangramento na pele. O hematoma é, geralmente, uma lesão mais profunda.
Fases e cores do Hematoma
O hematoma passa por diferentes fases de cor à medida que o corpo o reabsorve. É normal, faz parte do processo natural de cura.
Fase 1 (rosa ou avermelhado)
Logo depois da lesão, o sangue que escapou dos vasos ainda está rico em oxigênio. Por isso, o hematoma apresenta uma cor vermelho-clara ou rosada.
Fase 2 (azulado a roxo)
Algumas horas depois, o sangue acumulado perde oxigênio. A hemoglobina, molécula que transporta oxigênio nos glóbulos vermelhos, sofre alterações. Isso faz com que o hematoma escureça, e ele fica azulado ou roxo.
Fase final (verde e amarelado)
Por volta do quinto dia após a contusão, a hemoglobina é degradada e surge a biliverdina, que tem uma cor esverdeada. Depois, a biliverdina se transforma em bilirrubina, de cor amarelada.
Normalmente, depois de duas semanas, a pele volta à sua cor normal. Isso indica que o hematoma está curado.
Quando devo me preocupar e procurar um médico?
Manifestações hemorrágicas leves, como hematomas e equimoses, são bastante comuns e na maioria das vezes acontecem devido traumas leves do dia a dia, em crianças e adultos.
Estas manifestações ocorrem em pessoas saudáveis e podem não ser necessariamente decorrentes de doenças hemorrágicas. Portanto, é importante tentarmos diferenciar o que é normal ou anormal.
Alguns sinais de alerta são sangramentos e hematomas que:
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Aparecem espontaneamente, sem nenhuma batida ou lesão conhecida.
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São muito grandes ou desproporcionais ao trauma sofrido.
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Acontecem com frequência e sem motivo aparente.
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Demoram muito tempo para desaparecer (mais de duas ou três semanas).
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Estão associados a dor intensa, inchaço progressivo ou limitação de movimento.
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Aparece em locais como rosto, costas, abdômen ou tronco sem trauma significativo, longe de locais com proeminência óssea
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É acompanhado por outros sintomas como sangramento no nariz, gengiva, febre ou perda de peso.
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Quando muitas pessoas da família tem o mesmo sintoma de sangramentos
Vale mencionar ainda que manter um check-up regular com seu médico também é uma forma de monitorar a saúde e identificar precocemente condições que possam levar ao aparecimento de hematomas.
Formas de identificar as causas para o hematoma
Para identificar a causa de hematomas frequentes ou anormais, o médico habitualmente conversa com o paciente sobre seu histórico de saúde tanto pessoal quanto familiar. Nesse momento, ele checa medicamentos que o paciente está recebendo e faz o exame físico.
Em alguns casos, ele aplica um questionário de sangramentos e, geralmente, pede alguns exames de sangue. Ou seja, na maioria das vezes, a história clínica é suficiente.
Os principais exames solicitados quando indicados são:
Tempo de Protrombina (TP) e o Tempo de tromboplastina parcial ativado (TTPa)
São exames que vão avaliar como está funcionando a coagulação do seu sangue. Eles medem o tempo que o sangue leva para coagular e fazer aquela rede de fibrina que vai estancar os sangramentos. Estes exames permitem avaliar a atividade dos diferentes fatores de coagulação, proteínas essenciais para este processo.
Hemograma com contagem de plaquetas
Ele contribui para o diagnóstico diferencial de diversas doenças, pois analisa possíveis alterações ou reduções nas células sanguíneas, como os leucócitos (série branca), os eritrócitos (série vermelha) e as plaquetas.
A diminuição no número de plaquetas, conhecida como trombocitopenia, pode ser uma das causas de hematomas e sangramentos espontâneos.
Fatores de coagulação
Também conseguimos dosar individualmente a atividade dos principais fatores de coagulação, entre eles: fibrinogênio, e os fatores II, V, VII, VIII, IX, XI e XII.
A análise desses fatores é orientada pelos tempos de coagulação mencionados anteriormente que servem como exames de triagem, o TP (tempo de protrombina) e o TTPa (tempo de tromboplastina parcial ativada).
Alguns desses fatores alteram exclusivamente o TP, outros afetam apenas o TTPa, enquanto certos fatores podem alterar ambos os tempos de coagulação.
Além disso, se houver suspeita de alguma doença hereditária que cause a redução das plaquetas, exames mais específicos podem ser solicitados. O Painel de trombocitopenia, por exemplo, é um teste genético que pode identificar alterações em genes associados a trombocitopenias hereditárias.
Mas atenção: alterações nesses exames nem sempre significam a presença de uma doença hemorrágica. Por isso, são fundamentais uma avaliação médica especializada e a realização dos testes em um laboratório de confiança.
A coleta adequada, o preenchimento correto dos tubos, o transporte e a análise cuidadosa das amostras são passos essenciais para garantir resultados precisos e uma interpretação confiável.
Qual tratamento indicado para amenizar o hematoma?
O tratamento para hematomas depende do local e da gravidade do sangramento. Hematomas simples, como aqueles que aparecem após pequenas batidas, geralmente não requerem cuidados médicos específicos.
No entanto, algumas medidas podem ajudar a acelerar o processo de recuperação.
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Compressa de gelo: aplicar gelo logo após a lesão ajuda a reduzir o fluxo sanguíneo local, diminuindo o inchaço e o tamanho do hematoma.
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Repouso: evitar esforço na região afetada auxilia na cicatrização e previne o agravamento do quadro.
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Evitar exposição solar ou utilizar protetor solar para evitar manchas na pele.
Por outro lado, hematomas mais graves, especialmente quando localizados em regiões delicadas como o sistema nervoso central, abdome ou olhos, exigem avaliação e manejo médico imediato. Nesses casos, o risco de complicações é maior, e o tratamento deve ser individualizado.
Em alguns casos será necessário a realização de exames de imagem como ultrassonografia, tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética. Eles permitem uma melhor avaliação da gravidade e extensão do hematoma. E, assim, direcionar o melhor tratamento em cada situação.
Quando o hematoma está associado a distúrbios de coagulação, o tratamento varia de acordo com o diagnóstico específico de cada paciente. E pode incluir reposição de fatores de coagulação, transfusão de plaquetas, suplementação de vitaminas, como a vitamina K, ou o uso de medicamentos como os corticosteroides.
Cada caso deve ser avaliado criteriosamente pelo médico para garantir uma abordagem eficaz e segura.
Fonte: Dra. Priscila Grizante Lopes - Hematologista pediátrica