Autora: Dra. Natalia Trevizoli - médica hepatologista
Uma condição que pode trazer complicações como varizes de esôfago, hemorragia, aumento do baço (órgão localizado na parte superior esquerda do abdômen), além de um inchaço abdominal.
Estamos nos referindo à hipertensão portal. Você sabe o que é e quais são suas principais causas? É visando responder essas e outras dúvidas que te convidamos a continuar a leitura.
Hipertensão Portal: o que é?
A hipertensão portal é caracterizada pelo elevado aumento da pressão sanguínea na veia porta, uma veia de grande calibre responsável por transportar o sangue em direção ao fígado.
Principais causas
Entre as principais causas da hipertensão portal, destacam-se:
- Cirrose hepática: causada por diversas condições, como infecções virais, consumo excessivo de álcool, doença hepática gordurosa não alcoólica, doenças autoimunes, doenças colestáticas e genéticas. A lesão progressiva no fígado leva à fibrose/cirrose, resultando em alterações na circulação do sistema porta hepático e aumento da pressão nos vasos sanguíneos, conhecida como hipertensão portal.
- Esquistossomose: doença parasitária causada pelo Schistosoma mansoni, relacionada ao saneamento precário. A hipertensão portal na esquistossomose ocorre devido à deposição de ovos nos ramos intra-hepáticos da veia porta, levando à fibrose periportal. É um quadro prevalente em áreas tropicais e subtropicais, afetando principalmente comunidades carentes sem acesso à água potável e saneamento adequado.
- Trombose de veia porta: obstrução da veia porta (o vaso sanguíneo que leva sangue dos intestinos para o fígado) por um coágulo de sangue. Causas possíveis incluem inflamações intra-abdominais, trombofilias e a própria cirrose, que é um fator de risco para trombose de porta.
Formas de Prevenir
A prevenção da hipertensão portal consiste em evitar a ocorrência de cirrose e outras doenças relacionadas a esse aumento anormal da pressão na veia porta e suas ramificações.
Sintomas de Hipertensão Portal
A hipertensão portal em si não manifesta sintomas, mas algumas de suas implicações podem apresentar sinais clínicos. Sendo assim, podemos citar:
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Formação de novas veias (vasos colaterais) em locais específicos, como na extremidade inferior do esôfago e na parte superior do estômago, devido à hipertensão portal.
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Desenvolvimento de veias varicosas no esôfago (varizes esofágicas) e no estômago (varizes gástricas) devido ao desvio dos vasos colaterais. Há um risco de hemorragia digestiva alta caso essas veias venham a se romper.
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Desenvolvimento de vasos colaterais ao redor da parede abdominal e do reto.
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Aumento do risco de encefalopatia hepática devido à entrada direta de substâncias tóxicas na circulação sanguínea. O desvio desses vasos colaterais do fígado acaba permitindo a entrada direta de substâncias, como toxinas, na circulação sanguínea.
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Aumento do baço, uma vez que a pressão interfere no fluxo sanguíneo do baço para os vasos sanguíneos portais. Quando isso ocorre, entre as possíveis consequências, estão a diminuição de glóbulos brancos, aumentando o risco de infecções, e a diminuição de plaquetas, aumentando o risco de sangramento.
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Ascite: caracterizada pela pressão aumentada nos vasos sanguíneos que pode resultar no extravasamento de líquido, causando um acúmulo de fluido abdominal.
Exames que auxiliam no diagnóstico
Entre os exames que auxiliam o diagnóstico, destacam-se:
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Avaliação médica: ou seja, anamnese e exame físico realizado pelo médico para identificar sinais e sintomas relacionados à hipertensão portal.
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Exames laboratoriais: realização de testes laboratoriais, como um exame de sangue para avaliar a função hepática e identificar possíveis indicadores de problemas no fígado.
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Exames de imagem: como a ultrassonografia, tomografia ou ressonância.
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Endoscopia: que pode identificar as varizes de esôfago e estômago.
Tratamento para Hipertensão Portal
O tratamento é altamente dependente da causa subjacente dessa condição e dos sintomas específicos apresentados em cada caso. Geralmente, envolve diversas abordagens, tais como:
Medicamentos: para reduzir a pressão nos vasos sanguíneos, diminuindo o risco de ruptura das varizes esofágicas, por exemplo.
Terapia endoscópica: aplicação de terapia endoscópica, principalmente para tratar varizes esofágicas e prevenir possíveis rupturas.
Intervenção endovascular ou cirúrgica: utilizada para derivação de parte da circulação sanguínea do fígado para reduzir a pressão no sistema porta ou até o transplante de fígado, dependendo da gravidade do caso.