Autora: Dra. Lilian Loureiro Albuquerque Cavalcante - Médica endocrinologista
Sarcopenia é uma palavra de origem grega que significa “perda de carne” e foi reconhecida como doença pela Organização Mundial da Saúde (CID-10M62.84) desde 2016.
Trata-se de uma condição definida pela perda de massa e função do músculo esquelético. Mesmo que sarcopenia e envelhecimento estejam fortemente ligados, seu desenvolvimento pode estar associado a doenças que não são exclusivamente notadas em idosos.
O que é a sarcopenia?
Trata-se de uma alteração da musculatura esquelética caracterizada pela redução da força e da massa muscular secundária ao envelhecimento, podendo comprometer o desempenho físico do indivíduo.
A sarcopenia é uma condição frequente, embora pouco diagnosticada, com o número de pessoas acometidas pela doença elevando-se de maneira importante com o aumento da idade.
Quais são os sintomas da sarcopenia?
A redução da força e da massa muscular estão associadas a efeitos adversos a curto e longo prazo. Os indivíduos acometidos podem apresentar dificuldades como: carregar algum objeto ou peso; para caminhar pequenas distâncias, por exemplo, dentro do próprio quarto; levantar-se da cadeira sem apoio e para subir degraus. Muitas vezes, essas alterações vão se manifestando de forma paulatina, sendo despercebidas por paciente e familiares visualizando algumas limitações maiores como típicas da idade.
A sarcopenia está relacionada a vários comprometimentos da saúde que se estendem desde quedas e fraturas à comprometimento cognitivo, com alterações da memória e quadros depressivos, incapacidade para as atividades de vida diária, como deambular sozinho; perda da independência e maior risco de óbito.
Sarcopenia em idosos: qual a relação entre a doença e o envelhecimento?
O decréscimo da massa muscular se inicia de forma fisiológica por volta da quarta década de vida. Ocorre principalmente em indivíduos sedentários e com algumas doenças, mas também nos indivíduos ativos e saudáveis, com redução de cerca de 1,5% da força muscular e de 1% a 2% da massa muscular ao ano a partir dos 50 anos.
Com o envelhecimento, o maquinário envolvido no equilíbrio muscular começa a apresentar algumas limitações. Dentre outros fatores, ocorre menor resposta das células às ofertas de nutrientes, principalmente de proteínas e alterações hormonais que tornam o processo de regeneração e formação muscular menos eficiente.
Algumas modificações celulares incluem redução no tamanho e número de fibras musculares, particularmente as fibras do tipo II (resposta mais rápida), associada a infiltração de gordura no tecido muscular.
Como diagnosticar e identificar a sarcopenia?
Atualmente, a ferramenta mais recomendada para o diagnóstico da sarcopenia é a sugerida pelo consenso europeu, European Working Group on Sarcopenia in Older People (EWGSOP), publicada em 2019, no qual se enfatiza o comprometimento da força muscular como componente principal do quadro. Não existem, até o momento, marcadores ou exames laboratoriais para o diagnóstico da doença.
O consenso recomenda a busca ativa de casos de sarcopenia por meio de um algoritmo (FACS - Find cases-Acess-Confirm-Severity), que se inicia com a aplicação de um questionário (SARC-F), que pode ser autoaplicável ou pelo profissional de saúde. No questionário, são avaliadas atividades da vida cotidiana, como necessidade da assistência para caminhar. De acordo com o resultado do questionário, segue-se para a avaliação da força muscular, com testes de como se levantar da cadeira ou da preensão palmar (Hand grip). Se necessário, é feita uma análise da massa muscular e avaliação do impacto das alterações observadas na performance do indivíduo.
Diante de relatos espontâneos de quedas, fraqueza, lentidão, observação de redução da massa muscular e/ou dificuldades para realizar as atividades básicas, fica evidente a necessidade de avaliação direta da sarcopenia, sem a necessidade da aplicação do questionário. Após o seguimento do algoritmo, o paciente é classificado como: provável sarcopenia, sarcopenia e sarcopenia grave.
Em caso de o questionário não indicar suspeição da doença, nova avaliação deve ser realizada após 1 ano ou diante de intercorrências maiores, como internamentos. Recomenda-se a busca ativa por casos da doença a partir dos 60 anos de idade no Brasil, mas é válido salientar que o quadro pode se apresentar em outras faixas etárias dependendo da situação clínica do indivíduo.
Sarcopenia e osteoporose: qual a relação entre as doenças?
A relação entre sarcopenia e osteoporose é explicada pelo tecido muscular e o tecido ósseo, que estão interligados desde as primeiras fases da vida. Ambos exercem ações endócrinas.
O tecido ósseo produz e libera substâncias (como o cálcio) que atuam na musculatura e vice e versa. Essas substâncias são conhecidas como osteocinas e miocinas, respectivamente, além de outros marcadores. Dentre as osteocinas, pode-se citar a osteocalcina que exerce efeito positivo no metabolismo energético e na síntese proteica. Em relação ao tecido muscular, a irisina, que vem sendo discutida com frequência no ambiente acadêmico, merece destaque. Trata-se de uma substância produzida e liberada pelo tecido muscular, principalmente em resposta ao exercício físico.
Estudos demonstram relação inversa entre níveis de irisina e fraturas em mulheres com osteoporose no período pós-menopausa e relação positiva da substância em relação a massa óssea (densidade e resistência) em atletas. Dessa forma, o comprometimento de algum destes setores (ósseo ou muscular) implicará no equilíbrio do outro.
Como evitar a perda de massa muscular?
A prevenção da perda da massa muscular e do possível quadro de sarcopenia é fundamental para o envelhecimento saudável. Prevenir a sarcopenia é melhor que realizar o seu tratamento!
Atualmente, sabe-se que o desenvolvimento da sarcopenia inicia-se antes do envelhecimento. A prática regular de exercícios físicos, em especial as atividades de resistência (força ou musculação), e a alimentação balanceada, com ingestão de calorias e proteínas em quantidades direcionadas à fase de vida do indivíduo, representam os pilares para a prevenção da doença. Estudos demonstram que o treino de resistência, realizado por meio do próprio peso corporal, com auxílio de pesos livres, halteres, faixas ou máquinas de resistência apresenta efeito positivo na quantidade (massa) e qualidade muscular (força), reduzindo ou retardando os efeitos do envelhecimento na musculatura.
Não menos importante é o tratamento e acompanhamento regular de doenças que podem ocasionar comprometimento muscular, como as metabólicas.
Qual o tratamento recomendado para a sarcopenia?
O tratamento da sarcopenia é baseado principalmente no estímulo muscular por meio de exercícios físicos de resistência e no suporte proteico-calórico adequado a cada caso. Até o momento, não há medicamentos direcionados e aprovados para o tratamento da doença, embora alguns estudos estejam sendo realizados.
É fundamental ter constância no treinamento físico para que os resultados sejam visualizados e ter ciência de que a suspensão dos exercícios implicará redução ou perca dos benefícios alcançados. A atividade da contração muscular é fundamental, pois gera a liberação de fatores de crescimento muscular que ativam células específicas e a síntese de proteínas.
A quantidade de calorias recomendadas depende, dentre outros fatores, da idade do indivíduo e das suas atividades diárias. Recomenda-se a ingestão de proteínas com elevada biodisponibilidade como fontes animais (ovos, laticínios, peixes, carnes), além da ingestão de micronutrientes (vitaminas e minerais), que pode ser alcançada por meio do consumo de frutas, verduras e legumes variados.
Orienta-se ingestão proteica de pelo menos 1,2g/kg de peso, com ajustes de acordo com particularidades do indivíduo, como função renal e morbidades. Atenção especial deve ser direcionada às fontes de leucina (carne, peixe, ovo, leite e derivados, feijão, castanhas, beringela, dentre outros), principal aminoácido relacionado com a formação muscular. A proteína age sinergicamente com o exercício para a saúde muscular. Com o avançar da idade, o sistema responsável pela formação das proteínas responde de forma menos intensa à ingesta alimentar, necessitando de maior quantidade ofertada para alcançar resposta metabólica semelhante. Esse fato tem relação, dentre outros fatores, com as reduções fisiológicas nos níveis de testosterona e estrogênio.
Diante da necessidade de complementar a ingesta alimentar recomendada, podem ser utilizados suplementos proteicos específicos, principalmente em indivíduos com idade mais avançada (paladar e mastigação comprometidos, apetite reduzido) ou com outras condições clínicas que limitem a ingesta de alimentos.
Além do exposto, é fundamental atuar nas possíveis causas relacionadas ou agravantes da sarcopenia como doenças endócrinas, pulmonares, osteoarticulares, dentre outras.
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