Seu médico pediu um exame de peptídeo C? Através dele, ele fica sabendo se seu corpo produz muita ou pouca insulina, o que é fundamental na investigação do diabetes, por exemplo.

Até mesmo os novos tipos da doença, como o diabetes tipo 5, reconhecido em 2025 pela Federação Internacional de Diabetes (IDF), podem ser melhor compreendidos com esse exame.
O que é peptideo C?
O peptídeo C é uma substância produzida pelo pâncreas. Ele é, na verdade, um fragmento que sobra da produção de insulina.
Ele é formado dentro de uma molécula maior, chamada proinsulina. E o pâncreas precisa "quebrar" esse bloco para liberar a insulina. O que sobra dessa quebra é o Peptídeo C.
Qual sua relação com a insulina?
O peptídeo C e a insulina são liberados no sangue na mesma hora e exatamente na mesma quantidade.
Como o pâncreas não fabrica a insulina diretamente, ele usa a proinsulina. Quando o corpo precisa de insulina, essa molécula se divide, formando uma molécula de insulina e uma molécula de peptídeo C
Por isso, medir o peptídeo C é uma forma muito confiável de saber quanta insulina o pâncreas está fabricando. Se o peptídeo C está alto, a produção de insulina também está. Se está baixo, a produção de insulina caiu.
Como o peptideo C é liberado no organismo
O peptídeo C é liberado na corrente sanguínea pelas células beta do pâncreas. E isso acontece no mesmo instante em que a insulina é liberada.
As células beta são as "fábricas" de insulina do corpo, e ficam no pâncreas. Quando o nível de açúcar no sangue sobe (depois de comer, por exemplo), as células beta entram em ação, quebrando a proinsulina.
Então, liberam a insulina e o peptídeo C no sangue. A insulina vai fazer seu trabalho de levar o açúcar para dentro das células. E o peptídeo C fica circulando como um marcador dessa produção.
Para que serve o exame de peptídeo C como diagnóstico?
O exame serve para avaliar a capacidade do pâncreas de produzir insulina. O médico usa esse teste principalmente no diagnóstico e na classificação do diabetes. Pode ser útil também no acompanhamento da pessoa com diabetes.
Ele também é usado para investigar episódios de hipoglicemia, ou seja, quedas de açúcar no sangue sem causa aparente.
Em situações mais raras, pode ser usado na suspeita de alguns tumores.
Diferenciação entre diabetes tipo 1 e tipo 2
O exame peptídeo C pode ajudar a diferenciar o diabetes tipo 1 do tipo 2 no momento do diagnóstico. E isso é feito medindo a reserva de insulina que o paciente ainda tem.
O diabetes tipo 1 é uma doença autoimune. O sistema de defesa ataca e destrói as células beta do pâncreas. Sem as "fábricas", o corpo para de produzir insulina. Nesses pacientes, o resultado do Peptídeo C será muito baixo ou até indetectável.
Já no diabetes tipo 2, o problema mais comum ao diagnóstico é a resistência à insulina. O corpo produz insulina, mas ela não funciona direito. O pâncreas tenta compensar e trabalha dobrado. Por isso, no início da doença, é comum ver o peptídeo C em níveis normais ou até elevados.
Em adultos, essa diferenciação é muito importante. Há casos de adultos com diabetes tipo 1 que são, inicialmente, classificados por engano como tipo 2. O peptídeo C ajuda a fazer o diagnóstico correto.
Avaliação da função das células do pâncreas
O nível de peptídeo C reflete diretamente a função das células beta. O exame mostra uma "foto" da capacidade de produção do pâncreas.
Se o pâncreas funciona bem, os níveis de peptídeo C são normais. Se as células beta estão "cansadas" ou em menor número, o nível de peptídeo C cai. Isso pode acontecer no diabetes tipo 1 ou em casos de diabetes tipo 2 muito longos.
Conhecer essa capacidade ajuda o médico a definir o tratamento. Por exemplo, se o peptídeo C está baixo, o paciente vai precisar de insulina. Se está alto, o foco pode ser em remédios que reduzem a resistência.
Monitoramento em casos de tumor (insulinoma)
O exame de Peptídeo C é usado para investigar e monitorar o insulinoma. Este é um tumor raro no pâncreas - e mais comumente benigno - que produz insulina em excesso, causando hipoglicemia.
Uma das funções do exame é confirmar que a insulina alta vem de dentro do corpo (do tumor). A insulina de farmácia (injetável) não contém peptídeo C. A outra é monitorar o tratamento, mostrando se o tumor foi removido e se ele retornou.
Esse uso é diferente dos marcadores tumorais clássicos, como o CA 19-9, usados para o tipo mais comum de câncer no pâncreas.
Peptídeo C alto e baixo: interpretação dos resultados
A interpretação depende sempre do quadro clínico. Um valor isolado de Peptídeo C não fecha um diagnóstico: o médico precisa sempre comparar o resultado com o nível de glicose (açúcar) no sangue. Um peptídeo C "normal" com glicose muito alta pode ser um problema. E um peptídeo C "alto" com glicose baixa pode ser outro.
O que significa peptídeo C baixo?
Um peptídeo C baixo significa pouca ou nenhuma produção de insulina. E isso é o esperado em pacientes com diabetes tipo 1. As células beta foram destruídas pela doença autoimune.
Mas também pode acontecer em pacientes com diabetes tipo 2 de longa duração. Após muitos anos, o pâncreas pode ficar "exaurido" e falhar.
De acordo com a Diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), níveis de peptídeo C abaixo de 0,6 ng/ml, em pacientes com mais de 5 anos de diabetes, sugerem uma deficiência severa de insulina.
Peptídeo C normal ou elevado
Níveis normais ou altos mostram que o pâncreas está, sim, produzindo insulina. E um nível elevado é muito comum nas fases iniciais do diabetes tipo 2. Como o corpo está resistente à insulina, o pâncreas tenta compensar. Ele se esforça e produz insulina em excesso. Com isso, o peptídeo C também sobe.
Pessoas com sobrepeso ou obesidade também podem ter níveis mais altos. Isso acontece por causa da resistência à insulina associada ao excesso de peso. E, como vimos, níveis elevados junto com hipoglicemia podem ser um sinal de insulinoma.
Valores de referência do peptídeo C
Os valores de referência podem mudar um pouco entre diferentes laboratórios. Por isso, o resultado deve ser sempre avaliado pelo médico. Mas um valor de referência comum para o peptídeo C no sangue, quando coletado em jejum, é:
- Normal: 0,7 a 3,1 ng/mL (nanogramas por mililitro);
- Baixo: abaixo de 0,7 ng/mL;
- Alto: acima de 3,1 ng/mL.
Um valor baixo sugere que o pâncreas produz pouca insulina, o que é esperado no diabetes tipo 1. Já um valor alto sugere que o pâncreas está trabalhando muito. E isso pode indicar uma fase inicial de diabetes tipo 2 ou estar associado ao excesso de peso.
Peptídeo C em jejum e após estímulo
O médico pode pedir o exame de Peptídeo C de duas formas. A escolha depende do que ele quer investigar. Em jejum de 8 a 10 horas é a maneira mais comum. Neste caso, o teste mostra o quanto de insulina seu pâncreas produz para se manter funcionando normalmente, sem o "esforço" da digestão. Uma espécie de "teste em repouso".
A outra forma seria pós estímulo, ou seja, logo após você tomar um líquido doce no laboratório (75 gramas de glicose). Aqui, o exame seria como um "teste de esforço" para o pâncreas. O médico quer ver se o pâncreas "acelera" e produz a quantidade certa de insulina quando o açúcar chega no sangue.
A Diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) aponta que esse teste de esforço ajuda a ver se o pâncreas está falhando ou não. Por exemplo, se o peptídeo C não sobe após estímulo, é um sinal de que ele não está dando conta do trabalho.
Qual preparo necessário para o exame de peptídeo C
O preparo mais comum é o jejum de 8 a 10 horas. E o exame é o de sangue, como em hemograma ou qualquer outro exame de sangue de rotina.
Atendimento domiciliar: coleta de exame em casa
Com o atendimento domiciliar do Delboni, você pode fazer o exame peptídeo C em casa. O Delboni vai até você e sem taxa de deslocamento. Para tirar suas dúvidas e realizar seu agendamento, basta acessar nossa plataforma online.
Fonte: Dra. Laura Lopes, médica endocrinologista